domingo, 9 de fevereiro de 2014

Intersexualidade e mídia: Filme "XXY"




     Dirigido por Lucía Puenzo, XXY traz a história de Alex (Ines Efron), uma garota intersexual que vive com sua mãe Suli (Valéria Bertuccelli) e seu pai Kraken (Ricardi Darín) num vilarejo no Uruguai. A família recebe a visita do casal Erika (Carolina Pelleritti), seu marido, o cirurgião Ramiro (German Palacios) e seu filho de 16 anos, Alvaro (Martin Piroyansky) em sua casa.

     O filme traz uma série de situações pertinentes ao mundo da intersexualidade, muitos dos quais já trouxemos aqui para discussão. A questão da sexualidade está sempre presente em Alex, desde suas conversas com Alvaro sobre masturbação, seu interesse por sexo, até as temáticas da identidade de gênero e orientação sexual.( Leia nossa postagem sobre Sexo, Identidade de Genero e OrientaçãoSexual) Alex, logo no início do filme demonstra não ter vontade de tomar os medicamentos que inibem sua masculinização, assim como afirma não querer passar por cirurgias reparadoras e além disso passa a sentir interesse por Álvaro, que também retribui o sentimento. 
Outro aspecto importante trazido no drama é o estigma sofrido por Alex. O fato da família ter se mudado para um lugar mais distanciado da cidade já é um motivo pelas pressões sofridas para que a garota passe pela cirurgia reparadora. Além disso, sua condição intersexual passa a ser descoberta pelos moradores do vilarejo, que agem de forma discriminatória e invasiva.




      A questão familiar é outro ponto importante. A mãe convida a família pensando numa possível intervenção cirúrgica de Alex, pois acredita que este talvez seja um desejo da garota, que poderá ser socializada de forma "normal". O pai, Kraken, por outro lado, se mostra intransigente à ideia. Uma cena interessante é a da conversa entre Kraken e um intersexual que vive como homem depois de uma cirurgia reparadora. Este fala sobre suas vivências anteriores, sobre suas escolhas e como foi passar pela intervenção médica. Para saber mais sobre este tema, leia esta postagem a respeito das cirurgias reparadoras e suas implicações.

      XXY é um filme que retrata as angústias e as formações subjetivas de sujeitos intersexuais e promove uma discussão muito rica sobre as singularidades da formação de cada ser humano. É também um retrato da sociedade que estranha, repudia e tenta normatizar o incomum. Alex, quando seu pai lhe tranquiliza ao afirmar que dará tempo para ela escolher o que quiser ser, responde de forma simples e que poderia ser até inconcebível para muitos: "E se não tiver o que se escolher?". 

      O filme está disponível na aba "Links Relacionados", do lado direito do blog.



Um comentário:

  1. Nasci intersex! Fui operada aos 3 anos de idade para ser uma menina, me colocaram na sociedade, mas o que posso dizer é que, a preocupação com o que a sociedade vai pensar, optando pela operação podem " atropelar " o direito de uma vida feliz. Pois antes de ser homem, mulher ou intersex, somos seres humanos que têm direito a fazer suas escolhas e tentar ser feliz. Escolheram por mim, escolheram errado...

    ResponderExcluir