John Gagnon e Richard Parker, citados por Paiva (2008, p. 643) atribuem
ao período compreendido entre 1890 e 1980 o que eles chamam de “período
sexológico”, onde iniciou-se uma pretensão de se trazer o estudo da sexualidade
ao campo científico. Durante as primeiras décadas desse período, produziram-se
discursos normatizadores sobre uma sexualidade poderosa, instintiva e pulsional
que se opunha à civilização e à cultura. Dentre os principais autores desse
período, esses autores citam Freud (e seguidores), Ellis, Hirschfeld,
Malinovsky, Stopes, Reich, pesquisadores do Instituto Kinsey, Margareth Mead,
Masters & Johnson.
Algumas abordagens teóricas pensaram a sexualidade (aqui englobada de
uma maneira geral e não apenas pensando no ato sexual) e elaboraram teorias
explicativas para seu funcionamento na espécie humana. Essas abordagens
divergem em muitos aspectos, em outros se encontram e em algumas teorias se
completam.
Pensando a partir da Psicologia evolucionista, o critério básico para se
determinar um comportamento (pense aqui no comportamento sexual) é o da seleção
natural de elementos mais vantajosos para a perpetuação da espécie. Como afirma
Parisotto (2003, p.77): “A Psicologia evolucionista (...) Parte do princípio de
que os padrões comportamentais são respostas motoras pré-estabelecidas que
sofreram pressões da seleção natural e que influenciaram o comportamento social
de membros da mesma espécie..”.
"Dessa forma, a diferença entre gênero seria, a partir do critério
evolutivo, mais um elemento selecionado e vantajoso para a perpetuação da
espécie humana. Para este paradigma, não há diferenciação entre os conceitos
sexo e gênero, pois “comportamentos típicos de
um gênero estariam invariavelmente associados ao sexo (isto é, macho/masculino
e fêmea/feminino seriam relações indissociáveis).” (MENEZES; BRITO; HENRIQUE,
2010 P. 246).
Essa perspectiva sugere, dessa forma, que homens e
mulheres se comportarão de maneiras características com tal finalidade
reprodutiva, seguindo assim uma “estratégia sexual”. Traz Perisotto et all (2003,
p.78):
“O homem tenderia a estratégias de curta duração,
minimizando ao máximo o comprometimento com cada fêmea, tendo desejo e
freqüência sexuais aumentados e sendo capaz de detectar rapidamente sinais de
disponibilidade ao sexo e fertilidade feminina. A fêmea buscaria
relacionamentos mais duradouros para garantir a proteção e o investimento
paterno nela e em sua prole, ou relacionamentos curtos com provedores de
imediato retorno.”
Esses discursos sobre a sexualidade resultaram então em praticas
clínicas e sociais de modulação dos comportamentos considerados saudáveis,
corretos ou aqueles considerados transgressores. Como afirma Paiva (2008, p.
643):
”As “descobertas” do período sexológico resultaram em modelos clínicos
de intervenção operados por psicólogos, médicos e psicanalistas até hoje (...).
A verdade sobre essa sexualidade natural e normal definiria também “a” família
natural e normal. “Famílias desestruturadas” (não-naturais), para usar a
linguagem que se fala na escola ou nos serviços de saúde e de assistência
social, explicariam desvios de comportamento a serem tratados ou prevenidos.”
Foucault analisa bem esses discursos de dispositivos da sexualidade
através dos tempos, como produções de poder e de regulação sobre os corpos.
Veja mais sobre neste post.
Essa concepção entende a sexualidade de forma instintiva e dependente de
uma maturação dos indivíduos, que resultaria então no ato sexual e na
perpetuação da espécie. Segundo Costa e Oliveira (2011, p. 4) “De acordo com o
tal conceito, a criança não possuiria sexualidade, essa surgiria a partir da
puberdade que é quando se iniciaria a maturação biológica e o instinto sexual
se formaria por meio de uma atração irresistível de um sexo sobre o outro, que
se completaria pela união sexual.”
Fonte: Google Imagens |
É nesse sentido que vai se perdendo a ideia de
expressão da sexualidade como um caráter evolutivo, visando apenas a
perpetuação da espécie para se falar em uma sexualidade que é constitutiva do
sujeito, suas relações e seu modo de vida.
“[...] Se, por outro lado, tomarem a função de
reprodução como núcleo da sexualidade, correm o risco de excluir toda uma série
de coisas que não visam à reprodução, mas certamente são sexuais, como a
masturbação, e até mesmo o beijo.” (Freud, 2006 apud Costa e Oliveira; 2011, p.2)
Fonte: Google Imagens |
Continua...
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