(Continuação) Construcionismo Social, modelos feministas e Teorias das Representações
sociais: Contribuições para uma nova psicologia do gênero.
É nesse sentido que o Construcionismo social vai
ganhando espaço e cada vez mais repercussão no cenário das ciências sociais e
nas discussões sobre gênero. As teóricas feministas dos anos 60 e 70 em
particular trouxeram as reflexões a respeito do conceito de gênero para
primeiro plano. Como afirma Crawford (1995) citada em Nogueira (2001, p.
142) “A distinção entre os termos sexo e gênero, sugerida e desenvolvida
durante a segunda onda do feminismo, foi uma tentativa (significativa) de
separar o sexo biológico do social o gênero e, desse modo,
possibilitar a crítica social.” No entanto, a mesma autora faz uma crítica ao
identificar discursos novos de “diferenças sexuais” como uma nova “roupagem”
das mesmas condições essenciais inerentes ao indivíduo, ou seja,“ De modo
irônico, uma pretensão feminista, que visava teorizar a construção social da
masculinidade e da feminilidade, passa a ser a estratégia que a obscurece
(Crawford, 1995 apud Nogueira (2001, p.142).
Simbolo feminista Fonte: Google Imagens |
Essa nova perspectiva irá adotar um posicionamento,
diferentemente do feminismo empiricista já mencionado, de “negação a uma
verdade universal e absoluta” (Flax, 1990; Harding, 1990; Rosenau, 1992) apud
Nogueira (2001, p.144).
Passa-se então a pensar um gênero pertencente a um discurso
político, social, mantenedor de uma ordem vigente, desvinculado de uma essência
biológica e fortemente articulado a uma linguagem e a relações sociais.
Fonte: Google Imagens |
Outro movimento contemporâneo aos movimentos feministas empiricista
e pós-modernista, a Teoria das Representações Sociais (TRS), proposta por
Moscovici na década de 60 ganharia fama apenas duas décadas depois em virtude
dos novos arranjos sociais e novos “atores sociais” que “explicitam
energicamente suas demandas, propondo à ciência novos conceitos a incorporar na
análise da realidade, como o de gênero, ou levando-a a repensar categorias para
poder levá-los em consideração como é o caso da noção de novos movimentos
sociais.” (Arruda, 2002, p.129)
Arruda (2002) faz uma ponte entre as teorias
feministas e a Teoria das Representações Sociais, salientando ambas “propõem
teorias relacionais, em que não se pode conhecer sem estabelecer relação entre
o tema/objeto e o seu contexto. Gênero é uma categoria relacional, na qual, ao
se levar em conta os gêneros em presença, também se consideram as relações de
poder, a importância da experiência, da subjetividade, do saber concreto (Idem,
2002, p. 133).
Trazendo as discussões para os casos de Intersexualidade:
A intersexualidade se encontra profundamente relacionada a
tais discussões, tendo em vista que sobre seu fenômeno perpassam questões
complexas, envolvendo por exemplo a percepção corporal, o papel de gênero, a
socialização e a identidade sexual dentre outras questões fundamentais. É nesse
sentido que os estudos de gênero são pertinentes pois implicam em uma reflexão
crítica e rica acerca da intersexualidade, além de se pensar na melhor forma de
lidar com tais sujeitos, contribuindo para sua melhoria de vida.
Entretanto, apesar de os estudos sobre gênero serem pertinentes para se
pensar a pluralidade de identidades nos sujeitos, ainda são escassos os estudos
que fazem a correlação entre estudo de gênero e intersexualidade. Como afirma
Santos, & Araujo (2008), num artigo de revisão bibliográfica sobre o
tema:
“(...) algumas considerações sobre diferenciação de identidade de
gênero têm sido pobremente descritas, principalmente em relação às etapas do
ciclo vital. Muitos trabalhos revelam que é comum existir crise de identidade
de gênero entre adolescentes intersexuais, sendo possível que no início da
idade adulta o “período de risco” ainda não tenha sido superado. Por essa
razão, parece essencial a realização de estudos desenvolvimentais mais extensos
visando ampliar a compreensão sobre diferenciação de gênero entre os indivíduos
intersexuados.”
De que modo, então, o atendimento ao indivíduo intersexual e sua
família poderá ser facilitado pelos profissionais envolvidos nos manejos
clínicos?
Deve-se considerar, primeiramente, que cada caso é um caso específico,
que necessita de procedimento particular. É primordial levar em consideração as
formações subjetivas do indivíduo intersexual. Além disso, considerar que a
construção de identidade sexual e de gênero é um fenômeno complexo e que vai
muito além de uma escolha primeira de definição sexual, ou seja, “É necessário
insistir que a satisfação com o sexo designado nem sempre está associada à
identidade de gênero.”(Santos; Araújo, 2008, p.271) e que vários fatores
estarão relacionando esta satisfação com as práticas vivenciadas, a aceitação,
e um tratamento adequado recebido pelo indivíduo intersexual.
É nesse sentido que, segundo Santos e Araújo (2008, p.
272), é preciso insistir que a “compreensão de fenômenos complexos, como o
desenvolvimento de identidade de gênero e sexual exige uma visão pluralista –
teórica e metodologicamente – que leve em conta o ciclo de vida, em particular
seus momentos de transição”. Dessa forma, em relação especificamente ao
profissional da Psicologia, cabe um papel fundamental de acompanhar o indivíduo
intersexual e sua família neste processo de construção da sua subjetividade, de
maneira mais saudável e com uma visão livre de convenções pre-estabelecidas,
que prendem o sujeito intersexual em uma construção de identidades que lhe
fogem a escolha.
Referências:
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