Ao redor do mundo existem inúmeras organizações que trazem a
intersexualidade para plano principal - são as chamadas Organizações
Internacionais dos Intersexuais (OII) - nesse site você pode ser direcionado para os blogs das
OII´s de vários países, inclusive o site brasileiro.
As OII´s trazem como Principios Fundamentais, dentre outros: a rejeição
pela categorização dos intersexuais em termos médicos, aos discursos de
impossibilidade de desenvolvimento humano em condições “bi-compartimentadas”
socialmente de modo sexista. Além disso, advogam a favor do “direito a seu
corpo, a seus genitais e a sua auto-identificação, de forma autônoma.” sem a interferência
“autoritárias e heterônomas” sobre este e a sua identidade. Para ler todos os
principios fundamentais, clique aqui.
Outra questão bastante importante a ser trazida aqui é a condição de
falta que rodeia os indivíduos intersexuais. Por conta da desinformação e,
principalmente, da rejeição por meio da sociedade a indivíduo em condições
“atípicas”, as pessoas intersexuais vivem em condições de pobreza e descuido
(leia esta entrevista com @ ativista e terapeuta intersex Mani
Mitchell sobre a pobreza e pessoas intersex).
“Quando você não faz parte da sociedade, é difícil prosperar. Coisas
simples como acesso ao trabalho remunerado, um lugar seguro para viver,
cuidados médicos adequados, são todos conectados. Temos pouquíssimos dados
sobre quantas pessoas apenas existem de uma forma muito triste, como muitos
jovens simplesmente desistem, como muitos outros se perdem num mal-estar
mental, no abuso de drogas e álcool…”
Por fim, quero trazer novamente a questão das intervenções cirurgicas e
medicamentais como ponto-chave no debate dos movimentos intersexuais. Já
falamos sobre as intervenções médicas Aqui (de forma mais explicativa) e Aqui (fazendo uma análise do discurso de poder
biomédico sobre as cirurgias). Descontruir uma ideia “humanidade sexuada” (você
é, antes de tudo, homem ou mulher), tão fortemente adotada na nossa cultura,
parece ser um primeiro passo para a despatologização de indivíduos que não
conseguem se encontrar em categorias físicas e “socialmente naturalizadas” de
ser humano. A busca, por movimentos intersexuais ao redor do mundo, pela
aceitação e autonomia sobre o próprio corpo propõe que as cirurgias de
readequação sexual consideradas “necessárias” (sem de fato o serem -
considerando o não risco à vida do indivíduo) sejam repensadas, relativizadas e
evitadas, até possibilidade de conhecimento e escolha do próprio sujeito
intersexual, em fase posterior de sua vida. Conceder ao intersexual a escolha
principal sobre o seu próprio corpo e sua identidade se mostra fundamental para
se começar a pensar, de fato, em igualdade de direitos (Falaremos em breve
sobre questões legais envolvendo indivíduos intersexuais e os limites para essa
igualdade de direitos) e respeito a multiplicidade dos corpos.
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