sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

(Re)pensando o sexo III: O Consenso de Chicago e as novas nomenclaturas para os estados intersexuais: Implicações éticas e sociais nas mudanças dos termos.


Intersexualidade, Hermafroditismo, Anomalia de Diferenciação Sexual. Esses e outros termos são utilizados, uns com mais preponderância em épocas específicas que outros, para designar aqueles indivíduos que, por fatores conflituosos, não são facilmente “encaixados” em termos da dicotomia homem/mulher. Mas qual a diferença entre esses termos? Ainda, quais implicações o uso desta ou daquela nomenclatura trazem para os profissionais envolvidos; para os indivíduos que possuem tais características, para os familiares destes e, por último, para nós, enquanto pertencentes a uma sociedade plural?



O termo hermafroditismo foi definido em 1876 por Theodor Albrecht Edwin Klebs em seu Handbuch der Pathologischen Anatomie e a classificação se baseia na natureza da gônada. O hermafroditismo se dividia em três principais grupos: pseudo-hermafroditismo masculino, que é a genitália ambígua com testículos; pseudo-hermafroditismo feminino, a genitália ambígua com ovários; hermafroditismo verdadeiro, testículo e ovário, com ou sem genitália ambígua. Após a descoberta dos cromossomos, modificaram a nomenclatura e adotaram os termos: ambiguidade genital com cariótipo 46,XY para o pseudo-hermafroditismo masculino; ambiguidade genital com cariótipo 46,XX para o pseudo-hermafroditismo feminino. Para o hermafroditismo verdadeiro, se manteve o termo.

O termo intersexo há poucos anos caiu em desuso, pois sugere a existência de um terceiro sexo ou sexo intermediário. O termo ADS (anomalias de diferenciação sexual) situa o indivíduo a partir de constituição de seu cariótipo, o que os estudiosos defendem que o ‘sexo genético’ é inerente a escolha e identidade. O problema é que mesmo assim, ADS ainda representa um conceito estigmatizante e persiste em uma terminologia dúbia, o que pretende ser revisto nos próximos Consensos.

Nós, do blog psi-intersex, preferimos adotar preponderantemente nas postagens e até mesmo no nome do blog o termo “Intersexualidade” por alguns motivos, apesar de este ser considerado um termo “ultrapassado” pelo discurso atualmente difundido das “Anomalias de Diferenciação Sexual”, dentre eles:

1-    O termo ADS, a nosso ver, traz uma noção de A-normalidade, de algo que está fora, não-pertencente. Desse modo, entendemos que o discurso que propõe a nomenclatura “Anomalias de Diferenciação Sexual” parte do discurso biomédico vigente de um binarismo natural da condição humana, e esta não corresponde a nossa visão.
2-    O termo “Intersexualidade”, por outro lado, nos remete a uma noção de algo entre dois “opostos”, ou seja, algo que, mesmo não se encaixando em um ou outro polo, ainda pertence ao todo, está inerente ao leque de possibilidades. Nesse sentido, intersexual engloba, incorpora e aceita as diferentes identidades como pertencentes a condição humana, e não exclui, retira e omite esta condição.

Acreditamos, no entanto, que não podemos finalizar a discussão a respeito dos termos, pois como vimos até aqui, a linguagem e o termo utilizado traz uma repercussão social e de ponto de vista influentes na vida de todos os envolvidos e da sociedade em geral. Preferimos utilizar o termo “Intersexualidade” ao da ADS pelos motivos explicitados, contudo acreditamos que uma reflexão mais profunda se faz necessária e oportuna hoje e futuramente.



Referência:

DAMIANI, Durval  and  GUERRA-JUNIOR, Gil. As novas definições e classificações dos estados intersexuais: o que o Consenso de Chicago contribui para o estado da arte?. Arq Bras Endocrinol Metab [online]. 2007, vol.51, n.6 [cited  2013-12-13], pp. 1013-1017 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302007000600018&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0004-2730.  http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27302007000600018.

2 comentários:

  1. Vindo do fim ao começo, notei no blog uma evolução. Ele começa conceitual, discutindo os temas cruciais relativos à temática, e evoluui para casos recentes, problemas enfrentados socialmente como decorrência de um pensamento binário (foi assim q entendi). Acho isso ótimo! Entretanto, pensei, e vejam se isto tem sentido, se estas postagens iniciais, por serem bem cruciais em suas defesas, por permitirem entender o seu posicionamento, não deveriam estar em uma aba separada, para que o usuário não as perdesse com o passar do tempo. Senti falta de ter tb uma aba que falasse de seus objetivos. Isso ajuda a saber se o que tem a mostrar é o que o usuário precisa.

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  2. Outro detalhe. Vi que defendem o uso do nome Intersexualidade. Em suas justificativas, vcs parecem sozinhos nesta defesa. Mas nas postagens mais recentes tive a impressão de outros comungarem deste pensamento. É isso mesmo? Se assim o for, seria interessante indicar estas pessoas e/ou grupo que pensam como vcs, ao menos pela preferencia no uso.

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